quem estou?

Minha foto
sobre os delírios me deito.....a cama desalinhada me enruga... acordo em seguida.... num pulo percebo que delirar é estar sóbria e ser sóbria é estar atenta aos canais pro delirio do amor que tem no mundo

Visitas ao atalho

click tracking

não há nada de errado com o verão, só o outono que parece apressado

há somente um enfeite nos olhos...o olhar

há somente um enfeite nos olhos...o olhar

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Espiando esquinas de cima do passado

Esses quadrados tão dados
parecem verdade em quadro...

congelam a reta,
congelam o verde do quadro

essas verdades ímpares
jogam as esquinas pra cima,
rasgam os postes de colarinhos abotoados....

vão cair com tom mudado(essas verdades viradas)
vão tornar sua tristeza, umidade ventilada...
vai lembrar de menino que gritava com ventilador ligado,

aquela voz motor
olhinhos de amor...
e hoje,
rouquidão de fumo
nada de novo
além de mais amor e dados....

Jazidas pressas


em pingos
de saudade

molho minha sala


em vaga de garagem espero

um pensamento se vestir....

espero o pingo virar goteira no baldinho.

espero a dose subir

te espero bulir mais um pouco o telhado....
cuidado em chuva
fica escorregadio o telhado

Tem perigo
de quebrar as telhas
e a goteira virar bica
tem perigo de chover nos quadros
tem perigo
de molhar o acaso...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cem medidas
para calcular o tempo
a que resiste um amor verdadeiro

Oito existências por eternidade

Como multiplicar o que é eterno por oito?
Quando é o momento de aceitar e convidar a eternidade pra sentar?

Onde mora o aconchego da eternidade? Por que ela não dorme nunca?

Sem medida pro tamanho do cansaço da eternidade insône
A alma esquece
que (é)terna
E o corpo
insiste em deitar com a eternidade

Há um minuto

Eu tenho dislexias apaixonadas
Tenho fomes anoréxicas
Uns frios de suores quentes

Charco
de amor puro
amor espesso

Tenho uns tremores débeis
lembranças tão hoje
tenho pés caminhados
exagerados caminhos
Tenho amor sobrando
crescendo até das axilas

Tenho dislexias de paz
tenho paz
me repito,
eu comigo dou empate

Reconheço um escarlate nos meus diferentes afetos
quando acordo úmida de sonhos-suores

Tenho pés sempre descalços no chão do amor
e o meu corpo responde num rutilar
às dislexias do tentar saber
da paz da paixão...

Desisto,
mudo de tantos mudares
fico quieta diante dos silêncios que barulham em mim
e só amo porque não sei fazer diferente

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Reação poética a sonoridade

Os passos poderiam ter outra lentidão
mas deslizam sem permissão alguma

as linhas pressentem o bordado
o chão espera o passo
um perfume
uma mistura de tempos
o belo
um agora emoldurado
em figas cruzadas

a sonoridade tece

parece uma prece pra sorte
é só um resultado

os passos poderiam ter outra medida de pressa
o final espera o ponto
a sorte espera o erro.....
assim como
a beleza espera o belo

domingo, 20 de junho de 2010

A pupila dos que se apaixonam

A pupila dos apaixonados se dilata
O apaixonante causa hipnose
no olhar do apaixonado que procura...

Olhos diluídos,diletantes a sondar
As pupilas se encontram antes dos lábios
Os olhos dos apaixonados se beijam...demoradamente

Abaixo dos olhos os corações se olham
as batidas esmurram a porta da frente do peito
(visita aflita querendo entrar)
violenta tempestade pela porta da frente do peito
um do outro a entrar

(Tempestade fundida é tempestade maior)

Os olhos continuam a se beijar sem fala
(tempestade se acalma, a chuva tem seu valor)
A temperatura do mundo muda
é como se fosse verão pra sempre o tempo do beijo do olhar
é como se só existisse o silêncio

A pupila dos apaixonados é mais dilatada que o normal
(essa questão pode ser um problema)
deve ser pra conseguir ver no escuro não saber do outro
(pelo menos ver...)
Quando anoitece um olhar adormece um temer
dormir apaixonado é tecer amanhãs
e anoitecer temeroso é sufocar os mesmos amanhãs
(os apaixonados erram nisso)

A pupila dilatada dos apaixonados tem entrega, medo, desejo, fuga, entreatos, entrega, fuga, hiatos, entrega, desejo, entrega, medo, desejo, medo, desejo, entrega e mais alguns estribilhos desdobrados de desejo.

Os olhos doem um pouco
principalmente quando diante do apaixonado
Ao mesmo tempo tem a sensação de estar cego,
pois se tudo é o outro,e se no mundo inteiro existe apenas um emaranhado sem graça e abafado de coisas que não são os olhos do outro,
nada mais faz sentido pros seus olhos, então opta pela cegueira.
(os apaixonados são chatos)

O passeio que o apaixonado faz no outro dura pouco
dura o tempo dum nunca mais esquecer.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Arrenegação da paz...

A paz

De saber e a de não querer saber
a de sumir,a de tentar,a de aceitar a paz de dizer sim.

Essa palavra tem facetas
(e o seu silêncio,insondáveis esquinas)
A palavra paz se agita instável...

A paz é árdua, a paz arde,
(se obrigatória)comprime as palavras sinceras,

Nem toda voz tem paz.
Eu choro,
não compreendo as coisas que dependem das promessas

A palavra
promete coisas que apenas o silêncio pode cumprir,

Em mim
sobram palavras
sem promessas
e dançam os futuros do silêncio...

em ritmo de fim

O fim se repete
as promessas têm fim
as promessas sem repetem a cada início de fim

O choro é água
de dor sem remédio
sem receita de cura

O choro limpa o tédio da dor
quem chora entende que precisa de cura

Toda vez que choro penso paz
(não deveria ser palavra)
Entendo que ela venha depois
do choro
que vem depois da dor
que vem depois do tédio
que vem depois da palavra paz.

Não existe tédio na paz,
existe paz

Mas falar
de paz, de amor, de Deus, do futuro, do outro, do fim
é esquecer de sê-los todos

Esquecer é uma forma de silêncio
e o silêncio é parte da cura

A cura é uma das soluções do adoecimento
(vem disfarçada de silêncio)
das moléstias contraídas no labirinto dos encontros,
nos corredores dos desencontros
no breu das dúvidas
no engando das certezas
Do adoecer
na quebra das promessas...
Do adoecer

A cura serve inícios
serve mudanças
aDeuses
a cura nos serve
tanto quanto
um silêncio honesto
ela cura inclusive as palavras mal escolhidas
que não param de ecoar
apesar do silêncio
que contesta a paz...

domingo, 4 de abril de 2010

A mansão do quarto amarelo ou como existir

Sim...essa cor é leve, serve nas paredes do cômodo vazio, combinam nele.
Assim vagou o meu primeiro quarto na mansão recessiva.
Comecei já feliz, a esperar, riso amarelo, certa irritação, no quarto principal.
(foi delicado o transe)
O alinhamento do lençol nunca fora belo, mas antes me servia acampar, era parte emocionada, investigação de amor, que se instaurava no cômodo. Perfume cômodo, de dormir encaixada no cheiro.
Senso excedido no espaço, braços maiores que a volta dos abraços, sufoco!
Fiz a mudança para o quarto amarelo nesse tempo de saudade e fui feliz.
A vaguidão da casa era apertada , os vãos me perfuravam lentamente... até faltar espaço.
Comecei a flutuar insone no que poderia ser o que parecia ser.
O quarto amarelo havia ofuscado os outros quartos. Admirável amarelo, cansativo, de brilho e sede.
Nas noites não ousava mexer na maçaneta, apenas passava pela porta e sorria pra solidão do quarto, que deliciosamente se parecia comigo. Ficava de certo modo tentada a espiar pela fechadura:

Fundo solitário
de amor sob medida
paredes raladas e incertas
O amor me vela
enquanto outro amor me leva
Confundir relevo em amor me eleva.

A poeira dos corredores era estática, a ventilação preguiçosa.
O sol batia nos turnos de sono, as esquinas da casa se tornavam frias quando anoitecia , o sol batia noturno.
Respirar ali era uma questão de cálculo, respirar errado seria tragar o trânsito convulsivo da casa. O lugar cheio de espaços vazios se agitava, a ponto de provocar labirintite em qualquer afeto que pudesse brotar ou quisesse.
O mais curioso era saber.

Esse espaço de mobília vivida (no passado vívida) estava inundado por um silêncio abandonado,sepulcral. Precisava mudar dali , de águas , de sóis.
A morte daqueles espaços aumentava a cada madrugada.

E o novo flertava nas campainhas.
O medo fingia não se incomodar com as visitas em blim blom.
Tinha uns dias em que as ruas pareciam mais harmônicas que os cômodos da mansão, era o vazio que desarranjava as noites e a luminosidade dos afetos.
Andava na calçada pronta pra encontrar um cão desprotegido, com olhos de amor, olhos que ensinassem, predispostos a entrar na minha vida-mansão-quebra-cabeça-adulto.
O quebra-cabeça-labirinto estava quase pronto, as peças faltantes estavam numa das gavetas da cômoda.
A comodidade de manter e inaugurar me inundava, talvez eu não quisesse desvendar o labirinto.
Mesmo sabendo das pistas engavetadas, optei pelo afeto passageiro dum cão abandonado com olhos de amor, e abandonei o quebra-cabeça-labirinto.

Os delírios principiavam a noite, na hora do repouso. Imperfeitos feixes de luz clareavam uma rejeição quase gentil, reconhecia.
Pela fechadura ,desejava o quarto amarelo, se encaixava na minha fase, mas parecia não estar totalmente pronto pra me receber.

Me repartia sempre em pontas de preocupação...Se na decoração teria abajour ou luminária, se a cama seria no chão ou uma cama nova, se seriam quadros ou colagens, fotos ou poemas, chaves ou trincos, amor ou rejeição...
As outras pontas ficavam presas nos afazeres conjugais, faxina no quarto principal, frutas e cereais, jantar fora, perfume ou hidratante de baunilha, incensos ou remédios pra esquecer o quarto amarelo , enfim política de felicidade prometida.
Alguns feixes apareciam em momentos inoportunos, chegava a pensar no que estaria acontecendo no quarto amarelo.
Adiante entendi o obcecado desejo de entrar no quarto.
Dias seguidos de visitas pela fechadura, encorajavam meu corpo a mover-se em direção a parte interna do abandonado e sólido cômodo interessante.
Antes de abrir a porta , limpei os detalhes do quarto principal, mudei as gavetas, troquei o lençol, dobrei os papeis passados numa ordem cronológica o os guardei.
Pronto....sozinha na mansão, tirei os sapatos, o sutiã e virei a maçaneta confiante.Entrei e foi rápido o reflexo de fechar a porta atrás.
Aquilo começou a fazer sentido ali, no primeiro minuto...a respiração se acalmou, as paredes pareciam mais flexíveis e o oxigênio mais nítido.
Era uma espécie de quarto com molde pra solidão acompanhada. Aquilo tanto me seduziu quanto assombrou.
No lugar mais solitário da mansão eu me enquadrava, maquiada, porém desnuda, rosto suado, pó compacto a escorrer pelo queixo. Flertei alegremente com a solidão do quarto, passado algumas horas, ria sozinha e cantarolava de olhos fechados, despreocupada com a chuva forte, que poderia estar molhando meu lençol engomado no quarto ao lado. Pois sim, a chuva se inclinava como que para encharcar a cama.
Chuva forte não significava tempestade, estava chovendo com céu de sol, a manobra da água era leve. Chovia no quarto principal gotículas diluídas no vento, canção d'água.
A canção silenciava, tinha melodrama no tom, mas não parecia canção de amor agora.
Eram tons descortinados, soavam como uma claridade primeira do dia, nada desconcertante ou virtuoso. Notas deflorantes apenas, canção escorregadia , perfumada, entrou nas minhas vagas com sombra, provávelmente para não mais sair.
Engraçado a melhor vaga ser a mais livre. Parte da minha mudança da mansão devia-se às vagas mal acostumadas e presas, as de ocupação posse-zelo-apego. Aquele tempo cultivava medo e inverdades.
A música e a vaga se encontraram num enlace, e finalmente a vaga virgem, aceitou a canção e sua inevitabilidade.
Tardes cativantes se esparramavam na mansão apertada.
Enquanto isso o que restava fora da casa era um domingo operado , de solaço e vozes de crianças.
Na casa o pensamento se irritava fácil, gritava sala a fora, atirava arrependimento e discórdia contra as paredes encardidas:

Amor tem prazo de validade
se vencido é um rasgado no peito
avança nos olhos do apaixonado
risca a prata dos bons tratos quebra a louça emocionada

Era a consequência do desejo obcecado de entrar no quarto

-Tens coragem de amar o que te bate no meio da cara e te diz que está de amor ocupado?
Seguras teu amor por um beijo?
Se veste pra outro enquanto este te despe?
Se sim é porque mereces
Mereces apanhar da voz do outro que te diz que tudo quer
que te põe no quarto de empregada e te chama quando der
Que te diz segredo fresco e te faz sentar pra ouvir
e que te fala apaixonado sobre o simples novo a encantar.

Nessa hora o afeto se cala no quarto amarelo e as crianças na rua agora choram.
Hora de ir embora da tarde risonha, deixar as bolinhas do pula-pula onde estão, hora de recolher os brinquedos!
Rapidamente percebi o oxigênio adulterado no quarto amarelo. Era gás agora, as paredes flexíveis me ludibriaram a noção....do espaço, do ar, de mim.
Com olhos mais lentos e molhados entrei pela última vez no quarto. As minhas malas estavam bocejando à essa altura.
Assim que abri a porta, vi a queda duma partícula, das muitas, de vidro do lustre. Um detalhe cuidadosamente encaixado se desprendeu do antigo lustre, luxuosamente decadente.
O aspecto empoeirado mudava a incidência da luz, uma poeira seca, cinza.
Pois bem, parecia que eu acabara de sacudir o teto do quarto, com a batida da porta, ao entrar.
O leito estava ocupado, com trajes femininos, roupas de bebê, amor de mãe, e ao lado no chão instrumentos musicais, discos de lindas canções, poeira, poeira, poeira.
Por que só agora via o quarto como ele realmente era/estava?
A expectativa que urgia em mudar pro quarto se embotou, voltou a ser apenas uma curiosa inquietação, de olhar a luz do quarto como quem cheira um girassol, mesmo sabendo que ele não tem cheiro e prosopopéicamente nem quer ter.

Fui rendida ao fracasso de sonhar noutro quarto...
Isso de retiro, de sair de si sem deixar mapa é arriscado, pode haver troca de danos, de "danem-se". Quando a gente se procura, não procura mais ninguém, poderia até achar se procurasse, mas seria barulhento demais procurar , seria sem saber.
A procura sem desde o quê e até quando, é sem saber. A procura é quase sempre sem saber.

Dizem que existe e mesmo esse tal sexto sentido de mulher.
E não é numa noite bem desmedida reconheci que a agulha da procura estaria ali, naquela almofada urbana que é a rua solta (como que macia), pronta pra entrar no rabo de quem sentasse nela, na rua.
Sentei a noite no meu humor e saí de roupa feliz, bem certeira no meu engano almofadado.
Dado momento me esqueci do que pressentia, não lembrava se era um flashe ou uma memória mofada ou uma intuição fadada a inevitabilidade, mais uma vez.
Um flashe seguido dum balde frio, talvez fosse esse o possível furo da noite.
Lá no lugar pressentido um gosto de idade, um sabor de controle e mais alguns disfarces apaixonados se estreitando na mão dupla da escadaria.

As medidas se soltaram do medidor, para que a verdade viesse sem controle, escada abaixo, ao meu encontro, na nudez da revelação.
A rua solta tinha mais espaço que o quarto amarelo, e assim repito, parecia mais real.
Entendia as direções, mas não era capaz de escolher a reta, andavas nas listras e flechas da rua, pernoitava até encontrar uma linha reta acesa.
Eu não tinha escolha, eram apenas dois fluxos: o de ir e o de voltar. Não restava opção de cruzar o meio e ficar no limite ida-volta.
Necessitava voltar, mesmo que para a mansão fosse de vez.
Assim que abri a porta do saguão sala a luz estalou ao acender queimou-se.
Meus bons modos riam-se com vontade de morrer.
O quarto amarelo sim, esticava minhas vontades até arrebentar, mesmo estando ocupado me chamava, me estimava. E não era mais mudar, era ter acesso ao quarto naquele estado de emancipação o que me interessava. De nada valia ser estimada, necessitava paredes macias, que recebessem a minha testa quando fosse essa a batida.

Além do quarto amarelo haviam outras formas de solitude, outro feixes de alegria, mas eu simplesmente não os via, e imersa no corredor lotado de caixas de mudança, resolvi abnegar aquela porta envelhecida, cheia de abismos e controles. Sendo esse o início do silêncio entre mim e o quarto amarelo.

A mudança ja havia se aplicado...Quase grata me estirei no corredor de caixas destinadas a um novo lugar:

A impressão de amor é feito o lava-jato que lava seu carro ha tempos
Fica limpo
mas não dura muito
mesmo sendo antigo o lugar de sempre
A impressão de amor é efeito de limpeza
mesmo quando é sabido que a sujeira de dentro não sai.

O efeito que o quarto amarelo produzira no resto da mansão tornou-a mais fria e rígida. Até as quinas, que me eram desafiadoras, esvaziaram-se, foram tragadas pro quarto, de ida sem volta, sumiram. Nas outras quinas, amarelas tristes, restaram noites inteiras, nunca vividas, vistas aprofundadas no nada e mais algumas doses inumeráveis de apreço, doses bagunçadas na insondável paixão infinita por quartos amarelos que não existem.... mansão adentro, alma afora, até hoje.

sábado, 20 de março de 2010

Notas dum telefonema sobre paredes e eternidade

Tijolos aveludados naturalizam as paredes
Pra que paredes?

Talvez me responda o porquê dessa sede.
Sua boca assemelha-se às folhas de outono

Se as bocas fossem paredes a mordida seria a porta, e sede saliva correndo nas pedras, feito água a cascatar.
Não consigo dormir, tenho uma mulher atravessada nas pálpebras.

Tijolos aveludado neutralizam a parede
Por que insônia?

Sua essência era um papel em branco, as palavras iam com o vento, nada de eterno...
Nem insônia ou infinito...era tijolo, ladrilho, empecilho, parede.
O silêncio daquela escolha, de pensar no tamanho do eterno, causou eternidade na noite sem sono.
Velocidade, parede, eternidade....eram coisas insones!
O tijolo e o cimento fundidos na minha inércia não construiam castelos. Entre quatro paredes haviam terríveis duelos.

Duelos são imensidões em desconcontrole de ordem.
A ordem, o afeto, a parede equacionavam uma reação.

O homem no quarto se levanta e resolve dar um telefonema.
Queria q valesse a transmissão, que seu pensamento latejasse palavras e que fossem tocantes e tocadas por cordas vocais.

Seu telefonema era similar a uma cólica, uma cólera de carência, doída...a ponto de esquecer os tijolos aveludados da parede íntima.
A razão do telefonema era simplesmente estar completamente apaixonado, inclusive pela voz dela.
A eternidade inaugurada naquele instante o fez perceber, que um telefonema poderia significar uma perfuração com furadeira cirúrgica na parede-abismo-intimidade...aquela declaração de amor!

-Não quero paredes nem esses tijolos aveludados, que tentam reconfortar a dor de tanto querer. Esses tijolos não neutralizam nada, agonizam meu templo.

Ela petrificada, reconheceu suas paredes macias
(no primeiro jantar dos dois ela manteve seu templo intacto)

-Mas eu te rejeitei em algum momento? Só disse que os templos são sagrados, e você concordou!

Os dois silenciaram e o telefone chiava, interferência, o rádio dela ficava do lado da cama, e ela deitada espremia bolinhas na virilha.

Ele sentiu a interferência.
Pensou em coincidências do destino e costurou seus lábios. Uma lacuna surgiu, incomodou-se , em seguida uma interrogativa saltou dos furinhos do telefone, ele se projetou na frente dela...

-Por favor , fale comigo! -Algo nos impele, nossos passos retrocedem.

-Como você gosta de revolver suas inseguranças Vicente. A nossa estória precisa de algumas paredes mesmo! Eu....o tenho como uma espécie de melhor amigo!

-Eu não acho que sejamos tão somente amigos assim, você mesma disse....que os dois homens que você mais ama no mundo sómos eu e o seu pai. Você não acha que exista algum sinal de eternidade nisso?

-Não sei Vicente, nada sei sobre eternidade, todos os tijolos podem ser demolidos, e tudo pode ser reconstruído em seguida. Tudo é tão mutável meu amor, obras de areia no fim se eternizam num instante, viram fotografias, nada concreto. Estruturas se desestruturam apenas.

(ele sorriu)
Gostava do jeito como ela simplificava.
-Tá certo Júlia!

A pergunta engasgada dele sobre eternidade fora um arroubo, aliviara-se por ter conseguido dizê-la.
Ele tudo sabia sobre isso.

(exercício de fluxo poético em 26/5/09 por Beatriz Rodder e Letícia Naveira)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Pandora e o Peixe aos vinte anos

Vi a vida vindo
em dança
Antigo desejo permeou a estância
Sacudiu a permanência
virou coisa sem freio

Ouvi a vinda enquanto ia em frente
assumi
E assustei o amor latente

A dança, a vinda, a frente
embaraçaram os sentidos que tinha.
Decidi dar um passeio
decidi existir

Daí um vento matutino
trouxe uma caixa
de pandora
endereçada a mim
veio ventando, dançando

(o que acontece com as nossas impressões aos vinte anos?!)

Mesmo olhando o destinatário
pensei que fosse engando destinado
Receei ao abrir o pacote

Lindo embrulho
não desmanchou no vento

Tinha leveza de ar
beleza de fogo
e cheiro de água fundida em terra

Chegou sem campainha
nem casa tinha

Eu,
volúvel
O presente pandorístico,
inviolável.

A caixa mudava de cor, sumia de mim
Eu fechava os olhos em prece:
" Se a vir na plataforma acenando em dança mandarei um beijo lento"
Abria os olhos.

Resolvi dar um passeio ali mais longe
A ventania presenteou-me em dias mal dormidos

O presente guardei
as noites sonolentas aguardei
com amor contido

Essa pandora não era musical, se mostrou silenciosa
dilacerantemente linda, solta
impossível guardar senão em mim.

Dissolvida no ar
vi que era uma dança
desprovida de ritmo pronto
manifestava desenhos inteiros e abertos

De causar euforia em criança
Eram abraços envolvendo tudo
rede oscilando com violência

Eu, peixe

Fazia rir
tentei balizar
inútil
imenso
sem fim

Insuportável simpatia causou-me
Obnubilada fechei os olhos
com prazer e sem controle
senti que estava adoecendo.

Eu, peixe, em febre:
"Se a vir na plataforma acenando em dança, chore, pois é sedução sem cura, sem volta e sem freio."

B.R.R

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Memória decantada feminina

Tive certeza ....te desnudaria num café da manhã.
A gente percebeu que queria mais tempo pra se ver....daí o trem
disparou, você nem conseguiu acenar direito. Eu fiquei na estação até
o barulho sumir das minhas impressões.
Depois fui embora,
acordei de tudo,acordei de novo,dormi, trabalhei, escrevi,fiz
compras, li, fumei, raspei a cabeça... E o barulho/impressão do trem ficou cada vez mais real.
Eu acho que eu gostava dessa menina, queria sabê-la, por muito
mais tempo ainda.
Voltei numa praça que me fazia lembrar do trem indo.
Feia a praça,
desejei que ela ,a que pretendia desaparecer,transcendesse
e viesse me visitar pra dizer que o trem era dentro da gente,era a
gente, se apresentando dessa vez, nessa vida ... e pra sempre.
Podia ser amizade,sexo, cinema,vinhos , mas que fosse pra sempre.

Daí, farejadora de gente que sou, dessas de gostar de gostar.
Me mantenho gostando do poder de gostar ainda mais.
Ela?
Dizia ter medo, mas acho que tava dando nome errado pro que sentia, uma ousadia , nem precisou se apresentar, o cheiro dela vinha da nuca, só cheirei de longe...
Perfume de quem gosta de ser olhada, de ser vista!
Me viu e soube, que eu também era assim, mas deu esse
nome,fazer o quê?!
É bobagem ter medo de quem quer ver só o que você quer mostrar,
não existia roteiro pra você, você era um delírio, era só surgir que eu te escreveria...
Medo?
Vista uma calça jeans apertada no medo, e depois tire. Nossa... o alívio que dá.
-Que mistério há no fato de você com seu rabo ...de cavalo, ter vontade de me ver nua?
As mulheres gostam da nudez,você ainda não é lésbica por isso.
Você é linda, mas me diga uma outra palavra além de medo.
Ela se recusou, sorriu e me deu as costas... a sua bunda ,redonda ,se despediu.
Não pude evitá-la...
Ah se todos os dias bundas ou pessoas lindas me invadissem ...
Lembro tanto dela ,ficaria tão contente de notícias delas ter... Mas e se a saudade for mesmo felicidade abafada?
Os meses são gotinhas tolas, a gente nem percebe, padecem no calendário.

O motivo pra te procurar talvez seja uma garoa...E a saudade das bundas de pessoas lindas, certamente é um sólo árido.
Talvez você seja só um incômodo. Procuro me distrair, mais fácil um ano novo entrar em mim e atravessar meus deveres, enrugar meus banhos demorados, evaporar meu tesão espalhado do que a gente se encontrar no acaso.
Quem se importa, não é mesmo?
Coincidências, delírios, balas de iogurte, pele com frio,unhas roídas, saudade,futuro, quase tudo é a mesma coisa....
Sempre que entro numa livraria procuro um rabo de cavalo castanho por cima da estante baixa que procuro "O Caderno Rosa de Lory Lamby"(Hilda Hilst[sempre ela])e não encontro.
Não sei porquê, mas não sei se ela existe...ou se ainda.
Talvez hoje ela seja uma recatada senhorita que descasca as batatas, pra fazer purê ou souteé.
E quando seu digno marido(nele existe barba) chega, ela está de avental, só de calcinha.
Ele sorri, agradecendo todos os dias a sobremesa que tem antes de todas as refeições que faz. Ela o olha e diz:

-Faminto?
-Encantado...
-Ainda falta triturar o alho
-Tire a calcinha ?!
-Ainda falta o alho...

E se vira, usa uma presilha douradinha, que parece um broche, seus olhos estão luminosos, mas são tristes.
Uma tristeza linda, os seios separados, um corpo pequeno, tão maldoso,tão perturbador...

-Eu não sei se pretendo continuar a te alimentar.
-Não entendi!
-Quero ir embora daqui!

Os dias seguem até três,e ela se conforma com o tédio, por um instante achou que amasse outro alguém sem barba.
Que nada ,ela só estava de TPM e o seu revolvente-ciclo-saturniano de 28 dias quase a transformou num delírio.

Beatriz Rodder