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sobre os delírios me deito.....a cama desalinhada me enruga... acordo em seguida.... num pulo percebo que delirar é estar sóbria e ser sóbria é estar atenta aos canais pro delirio do amor que tem no mundo

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não há nada de errado com o verão, só o outono que parece apressado

há somente um enfeite nos olhos...o olhar

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sábado, 20 de março de 2010

Notas dum telefonema sobre paredes e eternidade

Tijolos aveludados naturalizam as paredes
Pra que paredes?

Talvez me responda o porquê dessa sede.
Sua boca assemelha-se às folhas de outono

Se as bocas fossem paredes a mordida seria a porta, e sede saliva correndo nas pedras, feito água a cascatar.
Não consigo dormir, tenho uma mulher atravessada nas pálpebras.

Tijolos aveludado neutralizam a parede
Por que insônia?

Sua essência era um papel em branco, as palavras iam com o vento, nada de eterno...
Nem insônia ou infinito...era tijolo, ladrilho, empecilho, parede.
O silêncio daquela escolha, de pensar no tamanho do eterno, causou eternidade na noite sem sono.
Velocidade, parede, eternidade....eram coisas insones!
O tijolo e o cimento fundidos na minha inércia não construiam castelos. Entre quatro paredes haviam terríveis duelos.

Duelos são imensidões em desconcontrole de ordem.
A ordem, o afeto, a parede equacionavam uma reação.

O homem no quarto se levanta e resolve dar um telefonema.
Queria q valesse a transmissão, que seu pensamento latejasse palavras e que fossem tocantes e tocadas por cordas vocais.

Seu telefonema era similar a uma cólica, uma cólera de carência, doída...a ponto de esquecer os tijolos aveludados da parede íntima.
A razão do telefonema era simplesmente estar completamente apaixonado, inclusive pela voz dela.
A eternidade inaugurada naquele instante o fez perceber, que um telefonema poderia significar uma perfuração com furadeira cirúrgica na parede-abismo-intimidade...aquela declaração de amor!

-Não quero paredes nem esses tijolos aveludados, que tentam reconfortar a dor de tanto querer. Esses tijolos não neutralizam nada, agonizam meu templo.

Ela petrificada, reconheceu suas paredes macias
(no primeiro jantar dos dois ela manteve seu templo intacto)

-Mas eu te rejeitei em algum momento? Só disse que os templos são sagrados, e você concordou!

Os dois silenciaram e o telefone chiava, interferência, o rádio dela ficava do lado da cama, e ela deitada espremia bolinhas na virilha.

Ele sentiu a interferência.
Pensou em coincidências do destino e costurou seus lábios. Uma lacuna surgiu, incomodou-se , em seguida uma interrogativa saltou dos furinhos do telefone, ele se projetou na frente dela...

-Por favor , fale comigo! -Algo nos impele, nossos passos retrocedem.

-Como você gosta de revolver suas inseguranças Vicente. A nossa estória precisa de algumas paredes mesmo! Eu....o tenho como uma espécie de melhor amigo!

-Eu não acho que sejamos tão somente amigos assim, você mesma disse....que os dois homens que você mais ama no mundo sómos eu e o seu pai. Você não acha que exista algum sinal de eternidade nisso?

-Não sei Vicente, nada sei sobre eternidade, todos os tijolos podem ser demolidos, e tudo pode ser reconstruído em seguida. Tudo é tão mutável meu amor, obras de areia no fim se eternizam num instante, viram fotografias, nada concreto. Estruturas se desestruturam apenas.

(ele sorriu)
Gostava do jeito como ela simplificava.
-Tá certo Júlia!

A pergunta engasgada dele sobre eternidade fora um arroubo, aliviara-se por ter conseguido dizê-la.
Ele tudo sabia sobre isso.

(exercício de fluxo poético em 26/5/09 por Beatriz Rodder e Letícia Naveira)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Pandora e o Peixe aos vinte anos

Vi a vida vindo
em dança
Antigo desejo permeou a estância
Sacudiu a permanência
virou coisa sem freio

Ouvi a vinda enquanto ia em frente
assumi
E assustei o amor latente

A dança, a vinda, a frente
embaraçaram os sentidos que tinha.
Decidi dar um passeio
decidi existir

Daí um vento matutino
trouxe uma caixa
de pandora
endereçada a mim
veio ventando, dançando

(o que acontece com as nossas impressões aos vinte anos?!)

Mesmo olhando o destinatário
pensei que fosse engando destinado
Receei ao abrir o pacote

Lindo embrulho
não desmanchou no vento

Tinha leveza de ar
beleza de fogo
e cheiro de água fundida em terra

Chegou sem campainha
nem casa tinha

Eu,
volúvel
O presente pandorístico,
inviolável.

A caixa mudava de cor, sumia de mim
Eu fechava os olhos em prece:
" Se a vir na plataforma acenando em dança mandarei um beijo lento"
Abria os olhos.

Resolvi dar um passeio ali mais longe
A ventania presenteou-me em dias mal dormidos

O presente guardei
as noites sonolentas aguardei
com amor contido

Essa pandora não era musical, se mostrou silenciosa
dilacerantemente linda, solta
impossível guardar senão em mim.

Dissolvida no ar
vi que era uma dança
desprovida de ritmo pronto
manifestava desenhos inteiros e abertos

De causar euforia em criança
Eram abraços envolvendo tudo
rede oscilando com violência

Eu, peixe

Fazia rir
tentei balizar
inútil
imenso
sem fim

Insuportável simpatia causou-me
Obnubilada fechei os olhos
com prazer e sem controle
senti que estava adoecendo.

Eu, peixe, em febre:
"Se a vir na plataforma acenando em dança, chore, pois é sedução sem cura, sem volta e sem freio."

B.R.R