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sobre os delírios me deito.....a cama desalinhada me enruga... acordo em seguida.... num pulo percebo que delirar é estar sóbria e ser sóbria é estar atenta aos canais pro delirio do amor que tem no mundo

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não há nada de errado com o verão, só o outono que parece apressado

há somente um enfeite nos olhos...o olhar

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Memória decantada feminina

Tive certeza ....te desnudaria num café da manhã.
A gente percebeu que queria mais tempo pra se ver....daí o trem
disparou, você nem conseguiu acenar direito. Eu fiquei na estação até
o barulho sumir das minhas impressões.
Depois fui embora,
acordei de tudo,acordei de novo,dormi, trabalhei, escrevi,fiz
compras, li, fumei, raspei a cabeça... E o barulho/impressão do trem ficou cada vez mais real.
Eu acho que eu gostava dessa menina, queria sabê-la, por muito
mais tempo ainda.
Voltei numa praça que me fazia lembrar do trem indo.
Feia a praça,
desejei que ela ,a que pretendia desaparecer,transcendesse
e viesse me visitar pra dizer que o trem era dentro da gente,era a
gente, se apresentando dessa vez, nessa vida ... e pra sempre.
Podia ser amizade,sexo, cinema,vinhos , mas que fosse pra sempre.

Daí, farejadora de gente que sou, dessas de gostar de gostar.
Me mantenho gostando do poder de gostar ainda mais.
Ela?
Dizia ter medo, mas acho que tava dando nome errado pro que sentia, uma ousadia , nem precisou se apresentar, o cheiro dela vinha da nuca, só cheirei de longe...
Perfume de quem gosta de ser olhada, de ser vista!
Me viu e soube, que eu também era assim, mas deu esse
nome,fazer o quê?!
É bobagem ter medo de quem quer ver só o que você quer mostrar,
não existia roteiro pra você, você era um delírio, era só surgir que eu te escreveria...
Medo?
Vista uma calça jeans apertada no medo, e depois tire. Nossa... o alívio que dá.
-Que mistério há no fato de você com seu rabo ...de cavalo, ter vontade de me ver nua?
As mulheres gostam da nudez,você ainda não é lésbica por isso.
Você é linda, mas me diga uma outra palavra além de medo.
Ela se recusou, sorriu e me deu as costas... a sua bunda ,redonda ,se despediu.
Não pude evitá-la...
Ah se todos os dias bundas ou pessoas lindas me invadissem ...
Lembro tanto dela ,ficaria tão contente de notícias delas ter... Mas e se a saudade for mesmo felicidade abafada?
Os meses são gotinhas tolas, a gente nem percebe, padecem no calendário.

O motivo pra te procurar talvez seja uma garoa...E a saudade das bundas de pessoas lindas, certamente é um sólo árido.
Talvez você seja só um incômodo. Procuro me distrair, mais fácil um ano novo entrar em mim e atravessar meus deveres, enrugar meus banhos demorados, evaporar meu tesão espalhado do que a gente se encontrar no acaso.
Quem se importa, não é mesmo?
Coincidências, delírios, balas de iogurte, pele com frio,unhas roídas, saudade,futuro, quase tudo é a mesma coisa....
Sempre que entro numa livraria procuro um rabo de cavalo castanho por cima da estante baixa que procuro "O Caderno Rosa de Lory Lamby"(Hilda Hilst[sempre ela])e não encontro.
Não sei porquê, mas não sei se ela existe...ou se ainda.
Talvez hoje ela seja uma recatada senhorita que descasca as batatas, pra fazer purê ou souteé.
E quando seu digno marido(nele existe barba) chega, ela está de avental, só de calcinha.
Ele sorri, agradecendo todos os dias a sobremesa que tem antes de todas as refeições que faz. Ela o olha e diz:

-Faminto?
-Encantado...
-Ainda falta triturar o alho
-Tire a calcinha ?!
-Ainda falta o alho...

E se vira, usa uma presilha douradinha, que parece um broche, seus olhos estão luminosos, mas são tristes.
Uma tristeza linda, os seios separados, um corpo pequeno, tão maldoso,tão perturbador...

-Eu não sei se pretendo continuar a te alimentar.
-Não entendi!
-Quero ir embora daqui!

Os dias seguem até três,e ela se conforma com o tédio, por um instante achou que amasse outro alguém sem barba.
Que nada ,ela só estava de TPM e o seu revolvente-ciclo-saturniano de 28 dias quase a transformou num delírio.

Beatriz Rodder