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sobre os delírios me deito.....a cama desalinhada me enruga... acordo em seguida.... num pulo percebo que delirar é estar sóbria e ser sóbria é estar atenta aos canais pro delirio do amor que tem no mundo

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não há nada de errado com o verão, só o outono que parece apressado

há somente um enfeite nos olhos...o olhar

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Fragmento lírico acerca dum encontro-desencontro

Desligou o chuveiro
(girou primeiro a válvula fria, deixou cair mais tempo a água quente,afligindo-lhe os olhos até fechar completamente as duas águas)
O silêncio da dúvida foi mais agradável que a agitação das palavras "calouras" .....de brilho eterno, iniciadas em tempo de agoras.

O vapor do banheiro azul, o vestidinho azul no cabide reserva, os sons fora do banheiro.
Teria sido guardado o vestido nas malas, e a minha sensação fora só uma lembrança?
Não!
Foi-se....com mazelas e fúria a construção do encontro.
Sobreviveria a rachaduras úmidas , de constante movimento de águas?
(Flutuantes , solitárias .... em gigantesca forma sem divisão.....gigantescas.)

A construção se dividiria em pequenas constelações de harmonia e outras ilhas de disfarces cômodos do EU.

Não!
nada sobrevive no deslocamento, o sentido não é permanência, é puramente intencional viver em placas flutuantes de segurança.

Secou o corpo, limpou a maquiagem
(menos do que o faria se fosse dormir só).
A maquiagem pode ser intencional quando se está nu.É possível que a nudez emocional seja o maior incômodo maquiado ja visto.
Abriu a porta do banheiro...O vestidinho azul ainda estava no armário (ou nunca esteve).

Estranho pensar numa pessoalidade (compartilhada).... sem saber se ela vai estar no mesmo lugar que foi vista quando a última vez....

Dormiu
sonhou lâmpadas verdes
sonambulou curas de amor inflamado
pensou estar respirando poeira
ao dormir ao lado da água.
(Ela sempre olhava ao lado da cama, pra ver se o copo d'água estaria assegurando seu mimo de criado-mudo )

A água do mar dormia, nem parecia fúria quando se espalhava serena pela noite demorada...
Quase sempre a ilha flutuava no sono da água enquanto ela dormia...Seu sono era ágil, durava menos tempo que o sono da ilha.
Quase sempre acordava cedo a água...farfalhava nos coqueiros (como quem rasga papeizinhos de supermercado e os amassa em seguida)...era logo ao acordar, pra justamente acordar a ilha (dorminhoca e de prazeres terrenos ,habitos de lua cheia) junto dela..
A ilha havia criado pela água uma profunda relação de afeto e fusão.As duas se alteravam e se resultavam o tempo todo, as duas se olhavam independente de ser dia ou noite.
A ilha, com sua camada debaixo virada pra água ,vivia completamente molhada na parte de baixo...(E os olhos estavam sempre molhados ).....de areia molhada da ilha.
Talvez tenha sido por isso que a água não enxergou direito a ilha.
Muita areia nos olhos, muita saudade das terras planas, muito vento nas entranhas da ilha, ela apenas dormia...
A água, mais antiga que a ilha, resolveu parar de tentar acordá-la cedo.
Começou, ao contrario, participar das noites de lua ardente da ilha.
(A ilha era estranha, vivia irritada, mesmo quando estava calma!)

Suas superfícies estavam sempre cheias d'água...
Vai ver por isso a ilha se afastou dos olhos da água.
Estava se sentindo vista apenas numa das faces, a face que ficava dentro da água.
(A ilha sabia que não sobreviveria tanto tempo mais....aos revolvimentos e caldos que a água lhe causava em sua metade doada)

O mar sorria sem saber que a ilha , dele iria embora de vez.
Algumas camadas da ilha desmanchavam-se quando a água se agitava
(elas não se controlavam mais)

Acordou...
Chorando, com medo do desencontro,medo do tamanho do encontro, medo de ter sido engano.
Pegou o telefone e pediu socorro.
(ela estava ridícula, inchada de palavras-espirros contra o destino)
Mas naquele telefonema, em particular, o destino se irritou.
Se irritou porque as noites amanhecidas pareciam sempre vésperas de "dias-acontecimentos-graves"!

Ainda mais aquela noite...especialmente alegre... havia alguma coisa disfarçada pelo traiçoeiro destino eterno

O amanhã seria o "dia do infinito", mas o destino não era tão bem -vindo ali.
As regras se infiltraram no destino .Até que o passado moreno fez-se presente num dia de sol, mesmo diante das regras, aliás ,além das regras ....e passou por cima delas sem cisma.
As juras, os espelhos e as palavras resolveram reunir-se.
Fizeram a reflexão sobre o tempo delas, suas certezas , carências, carinhos....
A jura, era a mais desolada dos três, ja não conseguiria se restaurar após tantos "desdizeres".Só conseguia pensar que não merecia a forca com prazo irrevogável.
Os espelhos estavam sobrecarregados ,bombardeados por reflexos e sombras distorcidas , todas ao mesmo tempo.Eles(os espelhos) clamavam por um ângulo mais iluminado de reflexos, um ângulo em que a luz fosse de projeção inteira e nítida.
As palavras....ah.... as palavras....elas estavam completamente em estado de choque, não acreditavam em mais nada do que diziam, diziam quinas,diziam ruas sem saída, diziam cofres sem segredo, diziam arco-iris , falácias , sofismas...
Precisavam fazer silêncio

Ela sabia do risco...
Desligou o telefone
em seguida a tempestade.

B.R.R

2 comentários:

j.laurino disse...

A leitora chega aqui e sem demora se vê feito um Drummond, com um sentimento do tamanho do mundo, mas apenas duas mãos...

Obrigada pelo convite. Muito gostoso esse cantinho, o seu. Antes mesmo de sair, já dá vontade de voltar. De voltar e ficar.

Fabio Luca disse...

Palavras doces em ponta de lança.
Voltarei de tempo em tempos.
A sensação de cmpletar ausência (ou tentar) foi o que em mim reverberou.

Beijos reflexivos.

Luca.